domingo, 22 de janeiro de 2012

Caso a pensar??????



O vício das telenovelas brasileiras foi recentemente alimentado por uma novela em que os personagens dividiam suas vidas entre Índia e Brasil. Não demorou muito para aparecer nas ruas pessoas vestindo-se e até com palavreado indiano que não faz o menor sentido para a cultura brasileira. Essa fragilidade na personalidade, alimentada pela televisão, é facilmente explicada pela psicanálise/psicologia. As pessoas precisam de um motivo para viver, especialmente quando suas vidas estão vazias, solitárias, improdutivas, sem sentido, sem rumo e a televisão quer ficar cada vez mais rica. É fácil se esconder em uma novela que tenta empurrar a vida real com a barriga. O grande problema é a influência negativa duradoura dessas novelas sobre pessoas fragilizadas emocionalmente.

A novela acabou, mas há inúmeras brasileiras procurando maridos indianos pela internet e recebem a proposta de casamento imediato porque há uma quantidade enorme de indianos indesejados ou problemáticos esperando uma oportunidade de ouro dessas para sair do país. Ver uma brasileira desesperada por um homem estrangeiro é uma chance barata que eles não podem perder. Elas nem imaginam a fornália em que estão se metendo, cuja panela é um caldeirão cultural diverso, pouco amigável até para os próprios indianos, além do perigo real que é um relacionamento feito pela internet. Não só na Índia, mas já chegou à imprensa brasileira inúmeros casos de brasileiras mortas, torturadas, abusadas em países como Arábia Saudita, Espanha, Itália, Estados Unidos, Índia etc.

Nacionalismo à parte, por que uma mulher brasileira necessitaria procurar um homem estrangeiro pela internet, sem condições de checar a verdadeira identidade, educação, família e procedência, ainda mais em um país com inúmeros problemas étnicos e fronteiriços como a Índia? Casamento já não é fácil conhecendo a pessoa desde a infância, imagina pelo buraco fundo da internete! Que tipo de mulher faria isso? A internet é uma faca de muitos gumes, especialmente nas mãos de pessoas desequilibradas. A grande maioria volta para o Brasil de mãos vazias, doentes, machucadas emocionalmente, desiludidas e até mortas. Nas praias da Califórnia, Estados Unidos (EUA) aparecem frequentemente corpos de mulheres estrangeiras boiando. A grande maioria dos casos não é solucionada pela polícia, por razões óbvias.

Nos EUA, que são uma cultura parecida com a brasileira, há grande incidência de casamentos entre homens norte-americanos e mulheres brasileiras que se conhecem pela internet, especialmente ex-militares solitários, homens com vários divórcios, aqueles rejeitados pelas próprias mulheres americanas por abusos, crueldades, dificuldades financeiras e homossexualidade não-assumida ou gênio complicado. Há inúmeros casos de morte, isolamento, maus-tratos, agressões e decepções resultantes de casamentos pela internet, ocultados pelas família e pelas vítimas por vergonha. O amor é lindo, sem dúvidas, mas as chances de dar certo um casamento arranjado pela internet é de um para 100, inclusive entre casais homossexuais. O motivo é simples: união afetiva entre duas pessoas precisa de química, confiança, tradição familiar, cultura similar, nível social siminar, história de vivência duradoura etc. Quem não viu as brigas e disputas internacionais por filhos? O golpe de ter filho para obter “green card” não dá mais certo...

Há alguns anos, as brasileiras que se arriscavam em casamentos eram as “meninas de praia”, durante o carnaval ou depois do verão em praias cheias de turistas brancos. Hoje não são mais as “meninas” ou os travestis que iam para Itália e Espanha. São mulheres maduras e até de certo nível educacional que se aventuram, por carência ou outro desequilíbrio emocional, a encontrar homens fora das fronteiras seguras que são a cidade onde mora. Quem não sabe que os relacionamentos começados em carnaval ou em férias de verão só duram enquanto o cheiro da cerveja está no ar ou a pele começa a descascar?

Naturalmente que há indianos, italianos e homens de outras nacionalidades corretos e honestos. A diferença é que eles não vão para a internet, no meio da noite, buscar meninas desesperadas para casar. Quem se esconde por trás da internet pode sofrer de timidez, ter alguma desfunção sexual ou emocional, exceto os adolescentes que fazem isso por imaturidade natural. Não podemos generalizar, mesmo porque um indiano educado, de boa família, pronto para casar, jamais sairá do seu próprio país para isso porque os casamentos nesse país envolvem as famílias de ambos os lados. Seja qual for a religião do indiano, a mulher vai ser empregada doméstica na casa da mãe do rapaz. E se é estrangeira, ela deve se preparar para virar escrava da família inteira.

Quem precisa sair do país para arrumar casamento? Na Índia, a família já se encarrega de arranjar um casamento com uma família do mesmo nível, dentro do país, com muito cuidado, porque há uma enorme preocupação com segurança, ataques terroristas, origem, religiões extremistas, falsos documentos, fronteiras com paises muçulmanos em guerra e uma infinidade de outros problemas sociais porque o país sequer tem um sistema de carteira de identidade individual. O país está se preparando para emitir carteiras de identidade pela primeira vez em 60 anos de história, de forma que os documentos para passaportes são facilmente falsificados fora da Índia.

Os jornais indianos publicam, diariamente, conflitos e mais conflitos que vão de religiões extremistas a terrorismo doméstico, morte e sequestro de mulheres, homens e crianças. Não faz muito tempo, uma brasileira foi retirada de uma casa pela polícia indiana onde o “marido” a mantinha como prisioneira, com janelas e portas fechadas por fora, doente, maltratada, abusada, faminta. Advinha como ela conheceu o “marido”? Se nas tradições indianas indus a mulher é obrigada a servir de doméstica para a mãe e família do marido, nas comunidades muçulmanas de qualquer país, ela é obrigada a “servir” os irmãos do marido... Brasileiras somem em países muçulmanos, onde os “maridos” tomam o passaporte logo no aeroporto de chegada daqueles países, com rarissimas exceções. Para eles, não há nada errado nisso porque a mulher é considerada “o sétimo ser”. O oitavo ser é o cão doméstico...

Os principais jornais da Índia publicam, aos domingos, cadernos especiais repletos de propostas de casamentos, especialmente porque aqui o casamento é um negócio rentável, onde a família da mulher é obrigada a pagar à família do homem um dote em dinheiro, joias e outros bens. Eles descrevem que tipo de mulher é procurada, religião, casta, nível social e isso dá o tom do negócio. O tráfico de seres humanos, inclusive mulheres estrangeiras, também é denunciado pelos jornais indianos, lado a lado com os anúncios de empresas especializadas indianas oferecendo “modelos” de várias nacionalidades para encontros casuais em hotéis do país inteiro, com telefone e endereço da empresa. Recentemente o governo apreendeu inúmeras pessoas acusadas de tráfico de crianças e adolescentes homens e mulheres dos países vizinhos em guerra, como o Afeganistão. As crianças eram forçadas a pedir esmolas nas ruas e a se prostituir, a média de idade era 10 anos. Embora não estejam disponíveis ao público, as estatísticas do censo, a população masculina indiana é visivelmente maior que a feminina e os direitos homossexuais não são respeitados nem pelo Estado. Travestis ou transexuais pedem esmolas nos cruzamentos das grandes cidades e há uma superstição de que quem não der esmola para essas pessoas será amaldiçoado. De um modo geral, o homem tem prioridade em tudo na Índia.

A Índia é territorialmente maior que o Brasil e há muita coisa positiva não tratada neste artigo. Segundo os jornais, a questão do terrorismo e os problemas de invasão de fronteiras são tão grandes que obrigam o governo indiano a controlar até os botijões de gás. Para se adquirir um botijão de gás é preciso apresentar uma enorme papelada legal, inclusive cópia do passaporte. Gás, telefone celular, água, imóvel, carro, tudo é checado e controlado pelo governo, por trás de enorme burocracia. Isso vale também para estrangeiros. Além do ridículo sistema de castas (muito parecido com a ex-nossa escravidão), há medo e desconfiança entre os próprios indianos, de região para região, especialmente nos estados não-indus ou não-budistas. Prova disso são os contratos de aluguel que descrevem detalhes jamais vista em contratos de aluguel em qualquer outro país.

Apesar da Índia construir de bomba nuclear a helicóptero e de ter a indústria de informática bem desenvolvida no Sul do país, em recente estudo publicado em um jornal de Nova Delhi, capital da Índia, afirma que são 140 milhões de indianos vivendo na extrema pobreza, isto é, vivem nas ruas. Não é a toa que a Unicef tem seus maiores escritórios neste país mas os programas sociais não conseguem abarcar a imensidade de pessoas desvalidas. Plagiando, de certa forma, o sumido cantor Belchior, os caminhos das índias “não é fácil para quem vem do norte e vai morar nas ruas”. Aqui, água, moradia, educação e comida valem ouro e são disputadas pelo dinheiro vivo. Só vale quem tem. Em contraste com as belas mansões e prédios de apartamentos luxuosos, a pobreza aqui é incomparável com qualquer cidade pobre brasileira. Em contraste com a religiosidade do povo, há milhares de pessoas que não sabem ler nem escrever, tolhidas pelo sistema de castas ou excluídos pela pobreza extrema. Viu isso na novela?

Copiar personagens de novelas, mesmo alienígenas, dá para a gente tolerar, pela compaixão de saber que as pessoas que se submeter a isso são aquelas que não conseguem lidar com elas mesmas, isto é, precisam de uma fuga para se firmar e a fuga é a mais fácil: ligar a televisão. O que preocupa é o resultado emocional dessas novelas sobre a vida das pessoas vazias - solitárias, improdutivas, sem sentido, sem rumo, sem um motivo bom e positivo para viver, por falta de uma educação básica, por abandono familiar, traumas familiares, por acreditar que tudo que é mostrado na telinha é correto, seguro e não engorda. Elas sofrem da falta de auto-estima. Muitas não descobriram ainda que a liberdade pessoal no Brasil está ligada ao estudo e não aproveitam as vantagens educacionais e os programas gratuitos que o Brasil coloca à disposição, pelo menos em educação básica.

O Brasil é, de longe, o país mais aberto e democrático que existe em termos de contato pessoal, mil vezes mais que os países europeus e norte-americanos conhecidos com “frios” – é por isso que inúmeros estrangeiros chegam e não querem mais voltar, aumentando o caldeirão dos problemas sociais e de segurança. O Brasil é um dos países mais relapsos do mundo em termos de segurança interna e externa. Muitos brasileiros pensam que tudo de fora é lindo, seguro e confiável. Ledo engano. Só quem viaja para o exterior percebe o país que tem e tanto maltrata. Quem se tranca em um apartamento e isola a sua vida nas quatro paredes é porque tem problemas sérios emocionais para resolver. Não é um casamento pela internet que vão fazer os problemas de relacionamento pessoal se evaporarem para sempre.

O que tenho contra telenovelas brasileiras? Isso você só vai descobrir quando for aos Estados Unidos e procurar a vida linda, fácil e maravilhosa que é apresentada nos filmes norte-americanos. Nada é real. É isso a telenovela brasileira, irreal. O convívio social daquele país, mudado extremamente após os ataques terroristas das torres de Nova Iorque, é duro, frio e até cruel no caso dos imigrantes, legais ou não. Nos anos 80, caminhava pelas ruas de Nova Iorque achando que estava no paraíso. Ia lá só de férias, sem preocupação alguma e me deixava levar pelo sonho ainda não acabado das ruas de Manhattan como Renato Russo fez. Não tinha contas para pagar nem ligava para as pilherias preconceituosas de raça, cor, religião e sexo. Já éramos chamados de “baratas” mas, quem ligava? Tudo era lindo e os gringos pareciam seres especiais, sem defeitos. A realidade não é essa para quem mora lá pelo menos quatro anos, ainda mais para aqueles que vão para os estados do centro e norte do país, onde moram os mais conservadores e sediam aquelas religiões fanáticas e medievais como os Testemunhos de Jeová e Mormons.

A solidão nas grandes cidades brasileiras, proporcionada pelo isolamento provocado pelo medo de sequestros, assaltos ou pelo minguado salário, é um fato real hoje e muita gente procura a fuga fácil dos sites de “encontros” pela internet, muitas delas jamais concretizando um encontro real. Televisão é barato, é só ligar e se contaminar. Os sites de “encontros” alimentam a falsa idéia de que tem alguém do outro lado que se preocupa e me dá atenção, mesmo sendo tudo mentira. Você também inventa um falso nome, muda a cor dos olhos e tudo parece real, até a conta de telefone no final do mês. Ao sair do pais ou convidar um estrangeiro desconhecido para o seu convívio social pode ser o fim da sua paz para sempre. Atendi em Brasília inúmeros casos de famílias que perderam tudo depois de casamentos saídos desses encontros na internet, mesmo entre brasileiros...

Enquanto entretenimento, é muito bom sentar em frente à tv com boa macarronada e ver personagens irreais em uma telenovela passando na sua frente como uma carruagem da família real inglesa, especialmente se ela tem cheiro de incenso, roupas bonitas e pessoas que parecem não se preocupar com trabalho, dinheiro, comida, porque tudo está ali, lindo, arrumado. As mulheres já amanhecem de cabelos e unhas feitos, bem vestidas... Homens bonitos não vestem camisas, especialmente se são calibrados nas academias. A macarronada com ovo nem avisa que você vai ganhar peso. Às vezes é bom relaxar a cabeça com algo vazio, aquele vazio das meditações budistas. Mas, é bom lembrar que essas novelas são feitas em estúdios cariocas completamente distantes até da vida real carioca, cheia de violência, perdida em um cenário que é obra da natureza divina. É uma nova versão de uma antiga história da classe média intelectualizada, que brincava de esquerdista nos anos 70, sentava na praia de frente para o mar e dava as costas para o Brasil, ouvindo Chico Buarque cantar no rádio: “... afasta de mim esse cálice...”. Assim, o Rio de Janeiro atraiu para sempre todo tipo de morador e a “cidade maravilhosa” virou um inferno vivo. O resto do país segue o mesmo caminho, agora com a colaboração de mulheres brasileiras solitárias e imaturas, doidas para casar a qualquer custo, graças à televisão.